5  Gerd Huber e os Sintomas Básicos

Na década de 1960, o psiquiatra alemão Gerd Huber realizou uma investigação longitudinal sobre o curso e os aspectos sociais da esquizofrenia, focando nos pacientes que foram hospitalizados em Bonn entre 1945 e 1959. Nesse estudo clássico, Huber acompanhou pacientes ao longo de décadas para entender melhor o curso da esquizofrenia e as variáveis que influenciam seu desenvolvimento e desfecho. Huber descreveu um estágio prodrômico da esquizofrenia, caracterizado por uma fase de “sensibilidade aumentada” e “perplexidade” que precede o desenvolvimento dos delírios, observando que os pacientes frequentemente relatavam uma sensação de que algo estava errado ou estranho, mas não conseguiam identificar o que era. Essa sensação de estranheza e inquietude era acompanhada por uma crescente sensação de tensão emocional e perplexidade, que culminava na formação dos delírios (Huber, Gross, and Schüttler 1979).

Huber teve uma influência significativa na definição e identificação do que hoje é conhecido como “sintomas básicos” da esquizofrenia. Ele propôs que havia certos sintomas subjacentes que eram fundamentais para a esquizofrenia, independentemente da apresentação clínica variada que a doença pode ter. Estes sintomas básicos incluíam alterações no pensamento, dificuldades de percepção, e distúrbios de atenção e concentração (Klosterkotter et al. 1999). Huber acreditava que esses sintomas básicos eram mais consistentes e menos influenciados por fatores externos do que os sintomas mais evidentes e dramáticos da esquizofrenia, como delírios e alucinações. Ele postulou que a identificação precoce desses sintomas básicos poderia levar a um diagnóstico mais preciso e a intervenções mais eficazes.

Os Sintomas Básicos são considerados como um fenômeno de transição entre a saúde mental e a doença mental, e são frequentemente observados em indivíduos em risco de desenvolver esquizofrenia. Também conhecidos como experiências subjetivas anômalas (por não serem observáveis externamente e se referirem a alterações não psicóticas da experiência), consistem em queixas sutis, subclínicas, principalmente de volição, afeto, pensamento e linguagem (fala), (corporal) percepção, memória, ação motora, funções vegetativas centrais, controle de processos cognitivos automáticos e tolerância ao estresse (Miret et al. 2016).

Por definição, trata-se de queixas que são experimentadas subjetivamente e, embora às vezes sejam difíceis de descrever, são reconhecidas como anomalias pelos próprios pacientes, o que as distingue dos sintomas positivos e negativos. Ou seja, os pacientes tem plena percepção de sua natureza anormal (Schultze-Lutter et al. 2016). Apesar de terem discernimento, as pessoas acham essas experiências subjetivas tão novas e estranhas que permanecem quase inexplicáveis (Schultze-Lutter et al. 2016).

Os sintomas básicos são os primeiros sintomas que o paciente experimenta subjetivamente no curso da esquizofrenia, mas podem ocorrer em todos os estágios da doença, tanso na fase prodrômica do primeiro episódio psicótico, como nos pródromos das recaída, ou mesmo durante o episódio psicótico propriamente dito (Miret et al. 2016).

Embora potencialmente reversíveis, os sintomas constituiriam um componente essencial dos estágios prodrômico e residual, podendo ser considerados a expressão sintomática mais imediata do substrato neurobiológico da doença. Daí serem denominados “básicos” e a natureza essencial do transtorno, sobre o qual os sintomas psicóticos produtivos flutuariam (Miret et al. 2016).

De acordo com essas hipóteses, os sintomas iniciais da psicose evoluirão em 3 etapas: